ZH publico o texto lindo e comovente de jornalista ELISA KOPPLIN FERRARETTO que reproduzo aqui:
Prezados cidadãos sbornianos:
De um lugar bem ao sul do mundo, chamado Porto Alegre, mandamos nossa
solidariedade pela perda de um de seus mais ilustres cidadãos.
Nenhum de nós jamais visitou a Sbórnia, dada a impossibilidade de encontrá-la. Afinal, esse país, antigamente ligado ao continente por um istmo, hoje navega pelos mares do mundo _ em decorrência das sucessivas, sucessivas, sucessivas explosões nucleares.
Tivemos, no entanto, a honra de conhecer sua história, política e
cultura graças a dois viajantes sbornianos. Todos os verões, há 30 anos, o
Maestro Plestkaya e o violinista Kraunus Sang desembarcam por aqui. Onde tantos
se perdem, eles chegam sempre ao mesmo porto seguro. Apenas para nos contar
novas histórias. Bem… na verdade, foram as mesmas ao longo de três décadas, mas
sempre pareceram inéditas. Pelo jeito especial de contar.Nenhum de nós jamais visitou a Sbórnia, dada a impossibilidade de encontrá-la. Afinal, esse país, antigamente ligado ao continente por um istmo, hoje navega pelos mares do mundo _ em decorrência das sucessivas, sucessivas, sucessivas explosões nucleares.
Foi assim que ficamos conhecendo o sistema político da Sbórnia _ o impressionante anarquismo hiperbólico, marcado por aquele clima de indecisão, aquela coisa de indecisão… Também nos foi apresentada a expressão maior da arte sborniana, o Copérnico, dança que alguns poucos tiveram o privilégio de ser chamados a praticar junto aos mestres.
Até mesmo na vida privada da Sbórnia nos imiscuímos, conhecendo tórridos e emocionantes episódios. Como o drama de Angélica. Esta mulher anêmica, de cores pálidas, gestos tímidos e beleza helênica, que morreu de cólica, teve sua tragédia relatada pelo amante em poesia épica, em forma esdrúxula, feita sem métrica, com rima rápida. Virou um hit sborniano. Isto sem falar no triste romance da caveira que, traída, trocada por um defunto fresco, suicidou-se de modo romanesco. Ou do trágico caso, também arrematado com suicídio, do jovem Marcelo, enforcado no almoxarifado ao lado do jardim após negativa da mãe em abençoar o casamento com a amada Roberta. Há muito também tememos receber notícia de um fatídico desenlace para o caso de sua concidadã Ana Cristina, atraiçoada pelo marido, que se encarinhou pela sogra. Mas, felizmente, nos últimos 30 anos nada de novo aconteceu.
Irmãos sbornianos, somos solidários em seu luto. Sofremos a perda de um grande artista e um grande homem. E lamentamos que os tórridos verões porto-alegrenses nunca mais serão os mesmos. Mas de uma coisa podemos ter certeza, para que nos sirva de consolo: o Maestro Plestkaya, aqui entre nós também conhecido como Nico Nicolaiewsky, não saiu da vida, este labirinto da ilusão, com as mãos abanando. De tanto buscar, certamente encontrou aquilo que procurava: a verdadeira maionese…
* Jornalista